domingo, 28 de outubro de 2012

Chapitre Un

    Boa  noite, meus caros amigos! Sejam bem vindos! Bela noite de lua cheia, não acham? Que tal ficarmos aqui fora e aproveitarmos esse belo plenilúnio? Boa ideia, não acham?
    Hoje apresentarei aqui o 1° capítulo do romance que estou escrevendo, chama-se "Metáphisique". Gostaria de ouvir vossa opinião sobre minhas habilidades em escrever prosa, já que não tenho tanta experiência nesse ramo. Ontem eu terminei o capítulo XIII. Também estou com um projeto de um livro de reflexões filosóficas, livro esse que está sendo escrito aos poucos e um romance utópico, que irá falar sobre uma sociedade perfeita em que as pessoas tem bons valores e valorizam a verdadeira arte.
    Dadas as explicações, vamos ao texto:

  Cap I
Au revoir

       Mais uma vez encontrava-me no interior daquela suntuosa e nívea sala. A mobília mais uma vez fazia-me ter um orgasmo estético, assim como o restante da decoração: os castiçais, os quadros, a escrivaninha e tudo que a ornava de forma que ela fosse um simulacro do Olimpo. Por muito tempo senti-me um deus ao residir aqui neste palácio mágico que por anos fez-me viver uma ilusão poderosíssima, fazendo-me crer que de fato eu pertencia a este lugar. Hoje, com a magia quebrada, vejo que a realidade é outra completamente diferente. A questão que permanece é se esse encanto pelo qual vivi sob jugo por tanto tempo foi de fato efeito desta morada ou foi algo que impus a mim mesmo. Bom, acredito que isso não fará muita diferença agora pois neste momento percebo que esse nunca foi o meu lugar. Agora que olho para mim mesmo e vejo meu sobretudo negro, meus longos cabelos escuros, minha pele bronzeada e meus olhos castanhos... como pude viver por tanto tempo iludido? Foi preciso um grande ferimento que quase causou minha morte para fazer-me despertar deste sonho maldito no qual estive por tanto tempo. Eu sou a antítese desse lugar!

   “I’m a creep, i’m a weirdo
    What the hell am I doing here?
    I don’t belong here”
           Radiohead, “CREEP”

      Desperto de meus devaneios ao ver aquela alva figura aproximando-se de mim. Estava linda como sempre foi. Usava um lindo vestido branco que cobria todo o seu corpo, privando-me da visão de sua pele. Os seus longos cabelos dourados e flamíneos estavam soltos, emulando uma enorme cascata de ouro líquido cujo valor era inestimável. Seus olhos azuis estavam a fitar-me de uma forma que nunca vira antes. A forma como olhava-me com aqueles olhos fez-me descobrir o que tinha para dizer antes que os seus lábios movessem-se com a intenção de proferir as palavras desejadas. Então, com aquele seu caminhar peculiar aproximou-se de mim, parando por alguns instantes. Olhou para o chão, depois olhou para o meu rosto. Senti que ela tentava em vão saber exatamente o que eu sentia naquele momento, como se tentasse ler minha mente. Na verdade se a ela pudesse ser concedido algum desejo, não tenho dúvidas de que ela escolheria o dom de ler mentes somente para desvendar os mistérios de minha melancólica alma. Alma, mente... alguns dirão que são coisas diferentes. Bom, para os franceses é exatamente a mesma coisa, tanto que eles usam a mesma palavra para denominar os dois, Espirit. Já aqueles que usam a língua inglesa usam duas palavras, assim como nós: soul e mind, respectivamente. Mas acredito que não cabe a mim tentar enveredar-me pelos mistérios das mais diversas línguas para descobrir quem de fato está com a razão. Isto não elucidaria o problema, muito pelo contrário, dificultaria ainda mais a questão e faria com que se tomasse outro caminho que conduziria para longe da estrada principal. Aliás, é o que está acontecendo neste momento. Retornemos então à estrada principal, visto que essa para qual eu os conduzi é por demais oblonga e maçante. Pardon moi.
      Depois de algum tempo fitando-me os olhos, ela deu um suspiro e perguntou:
      - Esta é tua decisão final? Irás partir?
      - Sim, estou certo de minha escolha.
      Quando disse isso, senti um calafrio percorrer todo o meu corpo. Acredito isso ser um fenômeno bastante comum, levando-se em conta que nunca pensei em articular tal sentença. Creio ser isso o que chamam de angústia mas não uma angústia qualquer; é algo assaz esmagador, como se fosse um monstro criado pela mais maligna das entidades divinas apenas com a intenção de lacerar a alma de suas vítimas. Acrescento aqui que naquele exato momento eu sentia que aquilo era apenas o princípio de uma dor que com o passar dos dias tornar-se-ia cada vez mais insuportável, a ponto de fazer-me desejar ter um encontro precoce com Tânatos. Desculpem-me se pareço ser muito dramático ao usar essas palavras. Contudo foi exatamente assim que interagi com a realidade naquele momento, tudo que consegui perceber era a desgraça que se abatia sobre meu ser.
      - Podes visitar-me se assim desejares.
      - Isso não ocorrerá. Não há motivos para minha permanência aqui, mesmo que por apenas alguns instantes. Não há sentido, bem o sabes.
      -Sempre foste deveras dramático- ela disse, esboçando uma expressão de desdém.
      -Estou apenas sendo realista.
       Assim falei porém sentindo-me como uma vela que luta para permanecer acesa enquanto o vento sopra forte após abrir com violência as janelas de uma suposta residência.
      -Tua luz antes iluminava meu caminho, agora apenas me ofusca.- continuei, rompendo a barreira de silêncio que havíamos criado entre nós.
      - Vejo que não voltarás atrás em tua escolha. Nunca foste de fazer isso. Então isso é um adeus definitivo...
      Não respondi, apenas dirigi-me em direção à porta que conduzir-me-ia para fora daquele cômodo cuja luminosidade começava a incomodar minha pessoa. Mesmo não olhando para trás pude perceber claramente que ela estava seguindo meus passos. Cruzei a porta e continuei a caminhar. Então notei que ela não mais me seguia, havia parado na frente da porta e permaneceu estática a me observar. Parei de caminhar e fazendo um movimento com o pescoço virei minha cabeça para trás, mas não totalmente, não formando um ângulo de 90 graus como esperado de um movimento desse tipo. Fiz desta forma pois o objetivo não era olhar dentro dos olhos dela e sim apenas ser cortês. Sabe-se que para falar com alguém, se não desejas olhar nos olhos daquele com quem vós falais, ao menos esteja de frente com este.
      -Adeus, minha cara. Se um dia tornarmos a nos encontrar, que seja de forma breve e indolor para ambos.
      -Adeus.
      Essas foram as últimas palavras que dissemos um ao outro.
      Logo após, continuei meus passos em direção à saída de seu castelo. Agora ela havia tornado-se a proprietária única já que não fiz questão de pedir a minha parte. Caminhando pelo pátio, vi que acabara de anoitecer e a lua nova exibia um sorriso sarcástico, provavelmente destinado a mim. Notei que meus passos vacilavam, não conseguia caminhar em linha reta, era como se estivesse ébrio após ter ingerido a mais entorpecente e amarga das bebidas. Interessante notar que os portões já se encontravam abertos, os criados já tinham poupando-me do trabalho de abri-los. Criados... nunca fiz questão de tê-los. Confesso que eram úteis e tinham boa vontade mas não era algo indispensável para mim, salientado o fato de que sempre fui bastante independente. Ao contrário dela. Inclusive muitas vezes ela sentia-se muito orgulhosa em tê-los, era frequente o tom de soberba em sua voz ao dirigir-lhes a palavra. Nunca tratou-os mal, é verdade. Aqui devo ser justo e não tentar pintar um retrato de uma nova Catarina a grande, injusta com os menos favorecidos. Ela sempre os tratou bem, embora gostasse da sua condição de superioridade perante os mesmos.
     Foi nesse momento que notei que estava a pensar por demais e decidi obliterar os pensamentos ridículos que insistiam em apossar-se de mim e cruzei aqueles portões de forma derradeira.
     ... sem olhar para trás...



O personagem principal, que não tem nome, ou melhor, ele não é dito durante o romance. 


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