terça-feira, 2 de abril de 2013

DESEJO INCONTROLÁVEL PELO ÓCIO



    
Gostaria de entregar-me por completo ao ócio. Não ter obrigações, não ter de labutar e nem de fazer nenhum esforço físico.
Gostaria de entregar-me ao ócio por completo. Ter todo o meu tempo livre, não precisar controlá-lo e usá-lo da maneira que mais me agradar, para poder fazer as atividades mais prazerosas.
Gostaria de entregar-me ao ócio para poder dedicar-me às delícias da vida, para poder fazer apenas o que  gosto e sentir enormes orgasmos com isso, e o melhor de tudo, sem sentir-me culpado.
Gostaria de entregar-me ao ócio. Assim poderia embriagar-me com poesia, literatura, filosofia e todas as formas de escrita possíveis. Poderia fazer amor com as mais diversas melodias, das mais suaves às mais pesadas, das mais calmas às mais agressivas. Com elas, teria orgasmos múltiplos, como a mais despudorada das sibaritas, que a cada noite deita-se com os mais variados tipos de homens, só terminando suas orgias sodomitas aos primeiros raios de luz do sol, e mesmo assim non saciata! Poderia fazer entrar pelas minhas veias metafísicas drogas oriundas das tintas usadas pelos grandes artistas para pintar belas telas, simulacros da realidade e verdadeiras provas de que o homem é, de fato, um ser divino, e que ele tem todo o potencial para criar um universo artístico. Com esta substância nas veias, seria mais fácil viajar por mundos diversos, desde aqueles de celulose até os virtuais. Poderia matar meus inimigos, proteger aqueles que amo, desbravar terras desconhecidas, participar de momentos importantes da história humana, começar como um simplório e evoluir até tornar-me um herói épico, digno de ser imortal nas mentes daqueles que presenciaram meus feitos. Ou simplesmente rir de meus próprios defeitos e problemas e viver situações inusitadas com indivíduos tão loucos quanto eu.
Mas infelizmente não posso entregar-me ao ócio, pelo menos não de forma plena. É preciso medir cada gota de prazer e calcular o tempo do orgasmo, pois as obrigações do cotidiano estão aí para lhe mostrar que de fato não és livre e que seus grilhões estão frouxos, não quebrados.
Creio que neste momento estás a criticar-me, dizendo que sou um sibarita intelectual e um egoísta metafísico, já que só penso em sentir prazer, sem me preocupar em contribuir de alguma forma para melhorar a vida de outras pessoas que vivem próximas a mim ou até mesmo da sociedade como um todo.
Porém devo alerta-los de que não seria dessa forma. Assim como vários artistas contribuíram para a preservação da cultura e para o engrandecimento de muitos indivíduos, eu também faria isso. De forma mais modesta, de acordo com a minha restrita capacidade criativa, mas faria minha parte com maior prazer. Não que eu não possa fazer isso hoje, contudo teria mais tempo para fazê-lo.
E não fiquem a pensar que este prazer não traria nenhum benefício além dos orgasmos. Através do gozo proporcionado pela arte, pode-se chegar mais perto do orgasmo luminoso e definitivo. Uma vez que alguém vivencie este momento especial, estará protegido dos males do sofrimento e sempre levará a sabedoria e o bem-estar aonde quer que vá, mesmo que de forma inconsciente.
Confesso que este que vos fala não atingiu esse cume luminoso, que infelizmente só é alcançado por poucos indivíduos. Que eu possa compensar isso, oferecendo-me para que, com meus escritos, possa povoar vossas mentes de fantasias artísticas e fazer-lhes ter orgasmos intensos. Por favor, peço que deixem-me ser parte de seus desejos mais loucos e que deixem-me dormir em teus leitos intelectuais!


2 comentários:

  1. Pleno, pleno e poético! Que maravilha você honra-nos fazer uma viagem poética de tal forma que a palavra "orgasmo" significa em suas mãos apenas o ato da vivência a plena arte. Beleza! Parabéns! Adorei! E destaco este trecho:

    "Assim poderia embriagar-me com poesia, literatura, filosofia e todas as formas de escrita possíveis. Poderia fazer amor com as mais diversas melodias, das mais suaves às mais pesadas, das mais calmas às mais agressivas"

    Um abraço!

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  2. Nossa... q deleite! Tão poético e tão erótico! Amei! Muito gostoso de ler. Ah, obrigada por dedicá-lo a mim. Beijos

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