sábado, 12 de janeiro de 2013

Os males oriundos da necessidade de identificar-se com algo


    Boa noite, meus ilustres visitantes! Espero que esteja tudo bem com vocês!
    Hoje não vou mostrar nenhum poema. Como já disse antes, este não é um espaço apenas para poesia mas também para debates. Gostaria de falar hoje sobre algo que causa sofrimento nas pessoas: o ato de identificar-se com algo..
   O ato em questão consiste em projetar sua imagem em algo, que pode ser uma religião, uma ideologia, um artista... esses são os exemplos mais comuns. Muitas pessoas falam “Identifiquei-me com essa música!” ou com esse filme, com essa ideologia. Vocês já devem ter ouvido isso, assim como também devem tê-lo dito. A questão é: como isso traz sofrimento?
   Quando nos identificamos com algo, nos projetamos ali. O nosso objeto de identificação passa a ser parte de nós, ou melhor dizendo, passa a ser a nossa própria pessoa, exteriorizada. É uma espécie de espelho metafísico, criado por nós e que só existe na nossa mente. Ninguém olhará para o objeto e dirá que está te vendo. Lógico, há casos em que vemos algo e lembramos de outras pessoas porém creio que isso é um outro caso.
   Os efeitos da criação desse espelho é o seguinte: qualquer coisa que se diz em relação ao objeto de nossa identificação é tida como se houvesse sido dita para nossa própria pessoa. É muito bom quando esse objeto recebe elogios, gostamos muito, não é? O problema é quando alguém fala mal do nosso querido espelho: como tudo que é dito para ele é tomado como se fosse conosco, então acabamos nos ofendendo também. E isto leva ao sofrimento pois nos sentimos atingidos, abalados e atacados de forma violenta. Muitas vezes não chegam a ser ofensas, apenas opiniões contrárias e críticas não destrutivas e mesmo assim tomamos como uma grave ofensa à nossa pessoa.
   Como fazer para não sofrermos então? Segundo Krishnamurti, grande pensador indiano ( eu recomendo), devemos nos afastar desses conceitos, não devemos toma-los como parte de nós. Assim não sofreremos, não discutiremos desnecessariamente com outras pessoas e teremos mais paz.
   Alguns irão ler isto e dizer que isso é impossível, se não tivermos nossos gostos perderemos nossa individualidade. Mas é justamente o oposto: você a recupera. A cada ideia criada por outra pessoa que seguimos, sem questionar, deixamos de ser nós mesmos, deixamos de ser pessoas flexíveis, tornamo-nos apenas a continuação de um conceito
    Mas aí alguns indagarão: quer dizer que eu tenho de deixar de ter minha religião, meu partido político, minha ideologia? Para se tornar um ser totalmente individual? Na minha opinião, sim. Vale salientar: MINHA opinião, não uma verdade absoluta!
     Citarei como exemplo a religião (advertirei que tudo o que direi a seguir não se aplica somente à religião: aplica-se à ideologias como um todo) . Digo que a questão do conceito é mais forte nela pois para você ser adepto dela, tem de seguir suas regras. Ora, se você não as segue, você não segue aquela religião. E aqui encontramos  a confusão que as pessoas fazem entre RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE. A primeira é um sistema organizado, com regras, deveres e punições e é seguida por um grupo. A segunda é algo individual, que pode ser um amálgama de ideias de outros grupos, uma ideia própria ou ambos. Muitas pessoas dizem que são católicas, mas na verdade são cristãs. Católico é quem segue o catolicismo, cristão é alguém que crê em Deus e em Cristo. O cristão não precisa ser católico, nem mesmo ter uma religião. Em suma: todo Católico é cristão, todavia nem todo cristão é católico.
     Porém desejo muito acrescentar que o que foi dito aqui não precisa ser feito por todos. Essa questão de não seguir religião e não ter uma ideologia é algo opcional ( foi o caminho que adotei). Você não precisa deixar de ser católico, budista, bruxo (não gosto da palavra “neo-pagão”, tem um sentido pejorativo), ateu, socialista, anarquista, deixar de votar e seguir as ideologias de seu partido político. Inclusive acredito possuir uma ideologia possa até servir para que você se torne uma pessoa melhor e que isso possa beneficiar você e outras pessoas. Você não precisa ser tão radical ( no bom sentido da palavra). Basta apenas ter em mente algo: sua ideologia não é você, não é parte de você, não é sua família, não há motivo para ficar tão revoltado porque alguém demonstrou ter uma opinião diferente da sua. Meu conselho é que você canalize essa revolta para outras causas: revolte-se contra as inúmeras injustiças que ocorrem no mundo. Voltando ao assunto, eu até acho meio entediante quando pessoas conversam e só fazem concordar uma com a outra. Chega um momento que a conversa se torna improdutiva. Bom é o choque de ideias! Muitas vezes quando duas ideias se colidem, nasce uma terceira! Isso não é maravilhoso?
     Bom, termino minha fala aqui. Espero que tenham gostado da conversa. Se possuem algo a acrescentar, gostaria muito de ouvir. Se não for o caso, tenham uma boa noite e até breve!
    

Um comentário:

  1. Pois bem Roberto: PARABÉNS! Belo texto e bem filosófico...Pois, para o bom viver basta saber que ouvir é para poucos, entender é para os sábios. E para aqueles(as) que discordam de uma ideia ou um ideal, como é necessário o silêncio, não é verdade! Gostei de passar por aqui!

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