terça-feira, 1 de janeiro de 2013


      O 1° sono do ano não foi tão calmo. Acordou várias vezes. Não eram pesadelos. Em, parte, era o abrasador calor que fazia. Contudo o principal motivo era outro: eram as palavras que dançavam e cantavam de forma frenética em sua mente. O barulho que elas faziam não deixava com que o sono dele fosse pleno. Foram inúmeras as vezes que seus olhos abriram e fecharam e as vezes em que rolou em seu leito.
      Quando despertou, o sol já estava alto no céu. Sua fronte encontrava-se bastante suada. Levantou-se e foi ao banheiro, precisava urgentemente refrescar-se. Ato concluído, sentou-se um pouco para aproveitar a sensação de frescor recém-adquirida. Passados alguns minutos, foi comer algo leve, não estava com tanta fome. O calor, sim, este estava maior. Apesar do banho ele não havia se dissipado. Havia amenizado, é verdade mas não desapareceu por completo.
   Terminada a sua refeição, apressou-se em pegar da caneta e do papel. Agarrou-os de uma forma maníaca e alucinada, parecendo um louco. Nunca havia feito isso dessa forma. Seus olhos estavam arregalados, suas mãos tremiam, o coração palpitava com uma força tremenda, sentia seu tórax lutando para contê-lo. Desesperadamente, procurou por um título para seu mais novo escrito e só veio uma palavra à mente. Acrescentou mais algumas e estava pronto. Agora poderia trabalhar. Poderia expor seu mais novo amor da forma mais obsessiva e ensandecida possível. Não se importava com o que fossem dizer depois. Não se importava que o chamassem de louco, de alucinado, de doidivanas. O que importava é que estava apaixonado. Estava amando. Como nunca havia amado em toda a sua vida.

                                         
                  MEU VERDADEIRO AMOR

 Como é incontrolável, deveras dominador
 Toma conta do meu ser de forma total
 Como se fosse um reinado despótico
 Que elimina da resistência qualquer sinal

 Eu te amo, eu te desejo, eu te venero
 Como nunca havia amado antes
 Parar de te amar? Jamais!
 Não tenho tais pensamentos hesitantes!

Eu te amo de todas as formas possíveis
Em todas as situações, em todos os lugares
E o faço de forma intensa e louca
Erguendo para ti mil altares!

Eu amo quando te violentam
Tiram a privacidade de teu corpo de forma violenta
Melhor ainda quando ninguém te protege
E tua agonia é atroz e lenta!

Amo quando és explorado em demasia
E não lhe pagam quase nada
Quando vais às ruas protestar
E é reprimido pelo Estado a pauladas!

Amo por demais quando tu recebes desprezo
No fatídico momento em que envelheces
Quando és escorraçado, maltratado
 E não recebe o respeito que mereces!

Amo quando tu produzes belas artes
Mas ninguém as aprecia
És esquecido e ostracizado
Por causa de pseudo-artes vadias!

Amo quando tu és discriminado
Por tua opção sexual ou tua cor
Quando por isso és impedido de viver
E cada vez mais aumenta a tua dor!

Amo quando te deixam na miséria
Depois de inúmeras promessas de campanha
Quando eles sentam no trono e descansam
Enquanto a tua tristeza é tamanha!

Amo quando matam os teus iguais
Por causa de território e religião
Quando a racionalidade finalmente perde
Para a toda poderosa alienação!

Amo você por demais, seu animal!
Quando em ti fazem desnecessários testes
Apenas o fazem por ti achar inferior
Membro de um grupo de pestes!

Eu vos amo em toda vossa angústia
Pois revolto-me contra ela
A cada golpe, represália e grito de dor
Sinto-me mais amalgamado a ela!

Bem gostaria de poder amar-vos
Sem que sentissem dor e sofrimento
Mas pelo fim deles eu lutarei
Retirarei forças de vosso tormento!

Meu amor por vós é imortal
A palavra para ele é “perfeito”
Pois não nenhuma esperança nele
Para um amor, é um grande defeito!

Não espero que me amem de volta
Já que nem mesmo sabes de minha existência
É bem melhor que assim seja
Não haverá risco de dor e demência

Do fundo do meu revoltado ser
Faço esta declaração de amor sincera
Que não começou agora e nunca terminará
Que apenas se intensificará nesta nova era!

Eu vos amo e por vós lutarei
Até o dia em que não mais sofrereis
Aí então nós poderemos em paz viver
E apenas canções de felicidade vós cantareis!













Um comentário:

  1. Errata: na quarta estrofe, contando de baixo para cima, o correto é:
    "Meu amor por vós é imortal
    A palavra para ele é “perfeito”
    Pois não há nenhuma esperança nele
    Para um amor, ela é um grande defeito!"

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